quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Joelho de porco e, pasmem: laranjinha de caldo de galinha!



Quando imagino que já estou um coroa-enxuto e que nada mais vai me comover ou assustar, bem, é exatamente quando me surpreendo com coisas para mim inimagináveis. Meu estimado professor Georgenor de Sousa Franco Filho uma vez me disse: "no dia em que achar que não sabe de nada, pode acreditar que acaba de aprender alguma coisa". Em Puerto Iguazú, ouvi falar de um tal sorvete de flor. Aí lembro da sorveteria Santa Marta, que era a única que fazia sorvete de pupunha. De férias em Foz do Iguaçu, tive a oportunidade de provar o famoso Heinsbein, ou joelho de porco: muita mídia pra pouco sabor - sinceramente, tem gosto de chulé!
Mas não é disso que queria tratar. O que tem me impressionado são os fatos corriqueiros na imprensa em geral, baseados em condutas violentas que assustam e traumatizam diversos brasileiros. Hoje em dia a regra das ruas é espancar ladrão até a morte. A regra das famílias é o filicídio; dos filhos, parricídio, matricídio, avuncolicídio... Não sabemos mas em quem confiar.
Em meio a tudo isso o filósofo francês Luc Ferry declara a família como a única célula capaz de resgatar os valores, uma vez que até a fé religiosa é insatisfatória. Para ele os fiéis de hoje não morreriam pela igreja (no mundo ocidental), porém, o fariam pela família. O que tenho visto no noticiário são pessoas matando a família e morrendo sem fé. Aí não entendo mais nada.
Para Hannah Arendt o colapso da sociedade aconteceria quando os valores transcedentais não mais sobreviveriam aos vícios cotidianos. Essa "banalização das injustiças", como afirma Arendt, tornaria o homem inerte quanto as barbaridades e familiarizado com o caos instaurado.
Agora vejamos o caderno policial do Diário do Pará: se você espremer, escorre sangue. Se ler, tem que achar um meio de considerar tudo dentro dos conformes, mesmo que fora da ordem. Espancamento de bandidos, tortura de acusados, banalização de vítimas e incoerência do Estado são tudo que temos para ler, diariamente, atualizados num grande F5 dos jornalistas. O clima está sempre temperado: caos torrencial com pancadas de injustiça.
Imagino o que meus filhos um dia vão pensar quando aos oito anos de idade tiverem discernimento para conhecer e reconhecer a violência em todas a suas formas. Penso que ainda existem meios de contornar isso. Imagino tudo que envolve essa transformação - aí penso que eu não existo mais. Façam suas apostas... será que temos culpa? Para Feuerbach, somos o que comemos. Se estamos consumindo toda a violência, espancando pivetes, pretendendo a matéria viva, alimentando egoísmo, proliferando ódio e destruição, provavelmente somos o monstro do Leviatã.
Eu de minha parte estou consumindo tudo isso como bizarrice e mídia fajuta. Por falar em bizarrice, ontem soube de mais uma para minha quase-branca-cabeça-de-coroa-enxuto: é que no bairro do Benguí, existe uma senhora que faz laranjinha de caldo de galinha! Isso sim é curioso! No diapasão de Feuerbach, se "what you eat you are", deve ser esse o meu menu mais trivial: joelho de porco com laranjinha de caldo de galinha!
רפאל

Nenhum comentário: