sexta-feira, 28 de novembro de 2008

FLAGRANTE: Então é Natal?



"Papai Noel,
velho batuta,
rejeita os miseráveis.
Eu quero matá-lo,
aquele porco capitalista.
Presenteia os ricos,
cospe nos pobres."


Quem não conhece esse clássico do punk rock pode sentir a mesma indignação ao olhar para essa fotografia e perceber a condição do trabalhador em época de festas natalinas. Duvido que algum deles se sinta confortável com esse "discreto" gorrinho de Santa Claus. Já dizia meu amigo Paulo Bassalo: "operário padrão, mesmo que aconteça a todo momento ser chamado de besta". É aviltante o que o a necessidade de sobreviver faz com as pessoas, e como os dentes vorazes do capitalismo utilizam dessa fraqueza para triunfar. O Natal é muito importante para o comerciante, pois para ele não é interessante que o trabalhador faça algo útil com seu 13º salário, e sim, financie os investimentos de sua empresa no ano que está por vir. Daí a necessidade de chamar a atenção do cliente (o famoso AIDA: atenção, interesse, desejo e ação).
Alguns podem achar normal, afinal... é Natal! E daí? O Natal não autoriza ninguém a ceder parte de sua dignidade e a CLT dispõe sobre a moralidade no ambiente de trabalho. Por outro lado, e isso é o que prevalece, existe a liberdade do trabalhador em contratar e encerrar contratos de trabalho. Linhas gerais, se resume no direito de aceitar as condições do trabalho ou ficar desempregado.
Para mim isso é assédio moral. Não posso esquecer que debaixo do uniforme do empregado existe um ser humano que tem desejos e convicções que devem ser respeitados. Ao uniformizar o empregado, amorfizou-se o indivíduo, que já pode ser confundido com uma carteira de trabalho. Um passo a frente e o empregado volta a ser propriedade do senhor feudal que é o seu patrão: fiquei sabendo que o empregado dessa loja aí na foto não pode tirar o gorrinho no seu feudo de trabalho.
O engraçado é que os vendedores não utilizam o referido adorno, somente os caixas. Talvez seja porque o patrão sabe que o cliente não vai querer ser atendido por uma pessoa com um chapeuzinho ridículo desses. Ao mesmo tempo, simbolicamente, os gorros demonstram a conexão entre o capitalismo do Natal e a sua atividade tesoureira. O gorro do Papai Noel, aquele porco capitalista, é agora coercitivamente usado pelos humildes trabalhadores, hienas do capital.
רפאל

FLAGRANTE: aluno pé-de-cana


Observem bem a a imagem acima: não, não é o Sul do Pará ou a Transamazônica. É o Terminal de ônibus localizado no terceiro portão da UFPA, na Perimetral, em Belém. Notem alguns alunos aproveitando a sombra do veículo para se proteger do sol. Parece estranho? Eu explico.
A situação enfrentada pelos discentes e trabalhadores da Universidade Federal que utilizam o transporte coletivo para seu deslocamento é vergonhosa. Com a "reforma" do terminal, metade das acomodações para aguardar o ônibus foram destruídas, sem que houvesse o remanejamento das linhas para o outro lado do terminal (esse que aparece no fundo da fotografia). Conclusão: aqueles que necessitam das linhas que saem do terminal no sentido Perimetral-João Paulo II tem que se submeter a dura rotina de esperar o ônibus praticamente na rua, pegando poeira na cara, e isso sem falar dos riscos outros (acredito que a noite a situação deva ser ainda mais delicada), como assaltos e acidentes.
O curioso que presenciei essa situação na última sexta-feira, porém, fiquei sabendo que o referido já ocorre há um certo tempo. Me surpreende a classe estudantil, através dos DCE's da vida, aceitar uma situação dessas. Não busquei saber, mas acredito que nenhum ofício tenha sido protocolado na PMB.
Concomitantemente, candidatos se revezam na campanha para assumir a reitoria da UFPA. Não sei o nome deles ou quem eles são. Será que não é importante zelar pela incolumidade dos alunos? Será que a campanha se encerra nos terrenos dos Campi?
Lembro quando eu estudava lá e tinha que me submeter a uma rotina massacrante para ir à aula: primeiro, saia de casa e passava um bom tempo esperando um ônibus, até descer na Lomas Valentinas e esperar em torno de 20 minutos junto aos vários colegas que se acumulavam no ponto, para então subir num coletivo lotado rumo à UFPA. Então, quando o o ônibus não era assaltado ou apedrejado, eu chegava na Universidade, mas pelo menos chegava na estação, não no meio da rua. Nesta última sexta-feira, o coletivo estacionou no meio da rua, e quando vi, só havia piçarra e poeira ao meu redor. Pensei que estava numa estrada, mas então vi que não haviam plantações, somente alunos, que mais pareciam pés de cana-de-açúcar na beira da estrada, expostos ao sol e à chuva, comendo poeira e ignorados. Estava em qualquer lugar, isso sim, mas não podia ser numa Universidade, com todo o respeito ao esclarecimento.
É verdade, era uma estrada, estrada do descaso, radial do desespero. É mentira, não eram alunos, eram pés-de-alunos, ou alunos pés-de-cana.
רפאל



terça-feira, 18 de novembro de 2008

Smashing Pumpkins - I'm in love with you!



Fontes fidedignas informam que a banda estadunidense Smashing Pumpkins pode vir ao Brasil em 2009, como parte de sua turnê comemorativa de seus 20 anos de estrada. Para mim, um pumpkin' lover de carteirinha, essa passagem é mais importante que um cometa, pois simboliza as memórias de minha juventude, todas elas alimentadas pelos discos lançados nos idos e queridos anos 90. Lembro do lançamento dos grandes álbuns deles, em especial o álbum Mellon Collie and the Infinite Sadness, lançado em 1995, que veio a tornar-se o CD duplo mais vendido no mundo, superando a marca de grandes medalhões, como The Wall, do Pink Floyd. Naquela época, o rock alternativo transmitia uma segurança incomparável aos seus ouvintes. Parecia que a música tinha encontrado um meio de sobreviver, mesmo que todos aclamassem a "morte do rock". Na minha opinião, fomos uma geração muito feliz. O rock dos anos 90, embora eminentemente estrangeiro, foi um marco na minha geração. Sinceramente, acho mais rico que o rock oitentista, um vez que representa muito mais para mim.
Smashing Pumpkins no Brasil! Quem diria! Em agosto de 1998 eles estiveram aqui e tocaram em São Paulo. Eu infelizmente perdi o show. Estava lá em Sampa de férias em julho - foi por muito pouco. Prometi a mim mesmo que, se houvesse outra oportunidade, não perderia de jeito algum. Deus é um cara legal e parece que vai me permitir isso. For the last time, Smashing Pumpkins!

Aos pumpkinianos, vamos reestruturar a nossa paixão e compartilhar tudo isso, sugiro uma visita ao Smashing Pumpkins Internet Fan Club, http://www.spifc.org/

רפאל


quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Joelho de porco e, pasmem: laranjinha de caldo de galinha!



Quando imagino que já estou um coroa-enxuto e que nada mais vai me comover ou assustar, bem, é exatamente quando me surpreendo com coisas para mim inimagináveis. Meu estimado professor Georgenor de Sousa Franco Filho uma vez me disse: "no dia em que achar que não sabe de nada, pode acreditar que acaba de aprender alguma coisa". Em Puerto Iguazú, ouvi falar de um tal sorvete de flor. Aí lembro da sorveteria Santa Marta, que era a única que fazia sorvete de pupunha. De férias em Foz do Iguaçu, tive a oportunidade de provar o famoso Heinsbein, ou joelho de porco: muita mídia pra pouco sabor - sinceramente, tem gosto de chulé!
Mas não é disso que queria tratar. O que tem me impressionado são os fatos corriqueiros na imprensa em geral, baseados em condutas violentas que assustam e traumatizam diversos brasileiros. Hoje em dia a regra das ruas é espancar ladrão até a morte. A regra das famílias é o filicídio; dos filhos, parricídio, matricídio, avuncolicídio... Não sabemos mas em quem confiar.
Em meio a tudo isso o filósofo francês Luc Ferry declara a família como a única célula capaz de resgatar os valores, uma vez que até a fé religiosa é insatisfatória. Para ele os fiéis de hoje não morreriam pela igreja (no mundo ocidental), porém, o fariam pela família. O que tenho visto no noticiário são pessoas matando a família e morrendo sem fé. Aí não entendo mais nada.
Para Hannah Arendt o colapso da sociedade aconteceria quando os valores transcedentais não mais sobreviveriam aos vícios cotidianos. Essa "banalização das injustiças", como afirma Arendt, tornaria o homem inerte quanto as barbaridades e familiarizado com o caos instaurado.
Agora vejamos o caderno policial do Diário do Pará: se você espremer, escorre sangue. Se ler, tem que achar um meio de considerar tudo dentro dos conformes, mesmo que fora da ordem. Espancamento de bandidos, tortura de acusados, banalização de vítimas e incoerência do Estado são tudo que temos para ler, diariamente, atualizados num grande F5 dos jornalistas. O clima está sempre temperado: caos torrencial com pancadas de injustiça.
Imagino o que meus filhos um dia vão pensar quando aos oito anos de idade tiverem discernimento para conhecer e reconhecer a violência em todas a suas formas. Penso que ainda existem meios de contornar isso. Imagino tudo que envolve essa transformação - aí penso que eu não existo mais. Façam suas apostas... será que temos culpa? Para Feuerbach, somos o que comemos. Se estamos consumindo toda a violência, espancando pivetes, pretendendo a matéria viva, alimentando egoísmo, proliferando ódio e destruição, provavelmente somos o monstro do Leviatã.
Eu de minha parte estou consumindo tudo isso como bizarrice e mídia fajuta. Por falar em bizarrice, ontem soube de mais uma para minha quase-branca-cabeça-de-coroa-enxuto: é que no bairro do Benguí, existe uma senhora que faz laranjinha de caldo de galinha! Isso sim é curioso! No diapasão de Feuerbach, se "what you eat you are", deve ser esse o meu menu mais trivial: joelho de porco com laranjinha de caldo de galinha!
רפאל

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Jubileu do ano 2000 (escrito em 1999)


Jubileu do ano 2000

O Jubileu já tá chegando,
todo prosa e moribundo.
Emancipando o submundo
que já teme seu chegar.

Rezo terço acordado
já temendo o Diabo,
e o bebum despreocupado
pede a Deus para ficar.

Crença doida e doentia,
paisagismo e homilia.
Satanás condecorado
brilhou queimando a velha chama.

Se já é hora, o Juizado.
O Jubileu tá atrasado
e o seu império penhorado.
Coisas de um povo condenado.

E se intriga com a peste
que tem "page" na internet.
Saiba que meu corpo
a injeção não vai tomar.

Globalizaram teu teatro
e esqueceram o cadeado.
Entre risos e fracassos,
eu trago o sonho congelado.

Mas a vida eu não temo
e o degelo do tempo
eu queria acelerar.

A medida do tempo,
a gaiola por dentro,
a questão do momento
que espero pra me mandar.

O Jubileu é uma piada,
excitada com Viagra.
É só sorriso e gargalhada
e mais nada pra mostrar.

Já me preocupa a tua vontade
pois desconheço a realidade.
Interferiste na viagem
que o teu sono ignorou.

Seja qual for a fachada
tua estrutura é desmembrada,
comprimida e espalhada
em bilhões de bilhões.

O Jubileu é uma farsa,
o verdadeiro é bomba armada.
É desespero de passagem,
é cortesia para entrada,
é universo paralelo,
é um jornal mais preocupado,
é poesia do Bassalo,
é parabéns e aniversário,
é um ser vivo em vez de morto
(um horizonte mais exposto).

É recriar a molecada,
e começar a cachorrada
mesmo louca e desmembrada.

O Jubileu não tá com nada
e tudo novo quer brotar.

רפאל

De férias


Aos bloggeiros, peço perdão pelo sumiço. Estando de férias - inclusive do computador - tive um ligeiro afastamento do blog, porém nada prejudicial. Neste meio tempo, vi e desfrutei de uma grande verdade: não há verdade que seja suficiente para nos satisfazer, a não ser que tenhamos discernimento. Kant dizia que, por não conseguir nos fazer felizes, Deus nos deu a inteligência...

É bom estar, bom ir... melhor ainda é querer mais: as vezes é melhor do que poder. A felicidade desesperada é um vício da humanidade. Encontro e despedida.
Satisfação estar aqui, רפאל