sexta-feira, 28 de novembro de 2008

FLAGRANTE: aluno pé-de-cana


Observem bem a a imagem acima: não, não é o Sul do Pará ou a Transamazônica. É o Terminal de ônibus localizado no terceiro portão da UFPA, na Perimetral, em Belém. Notem alguns alunos aproveitando a sombra do veículo para se proteger do sol. Parece estranho? Eu explico.
A situação enfrentada pelos discentes e trabalhadores da Universidade Federal que utilizam o transporte coletivo para seu deslocamento é vergonhosa. Com a "reforma" do terminal, metade das acomodações para aguardar o ônibus foram destruídas, sem que houvesse o remanejamento das linhas para o outro lado do terminal (esse que aparece no fundo da fotografia). Conclusão: aqueles que necessitam das linhas que saem do terminal no sentido Perimetral-João Paulo II tem que se submeter a dura rotina de esperar o ônibus praticamente na rua, pegando poeira na cara, e isso sem falar dos riscos outros (acredito que a noite a situação deva ser ainda mais delicada), como assaltos e acidentes.
O curioso que presenciei essa situação na última sexta-feira, porém, fiquei sabendo que o referido já ocorre há um certo tempo. Me surpreende a classe estudantil, através dos DCE's da vida, aceitar uma situação dessas. Não busquei saber, mas acredito que nenhum ofício tenha sido protocolado na PMB.
Concomitantemente, candidatos se revezam na campanha para assumir a reitoria da UFPA. Não sei o nome deles ou quem eles são. Será que não é importante zelar pela incolumidade dos alunos? Será que a campanha se encerra nos terrenos dos Campi?
Lembro quando eu estudava lá e tinha que me submeter a uma rotina massacrante para ir à aula: primeiro, saia de casa e passava um bom tempo esperando um ônibus, até descer na Lomas Valentinas e esperar em torno de 20 minutos junto aos vários colegas que se acumulavam no ponto, para então subir num coletivo lotado rumo à UFPA. Então, quando o o ônibus não era assaltado ou apedrejado, eu chegava na Universidade, mas pelo menos chegava na estação, não no meio da rua. Nesta última sexta-feira, o coletivo estacionou no meio da rua, e quando vi, só havia piçarra e poeira ao meu redor. Pensei que estava numa estrada, mas então vi que não haviam plantações, somente alunos, que mais pareciam pés de cana-de-açúcar na beira da estrada, expostos ao sol e à chuva, comendo poeira e ignorados. Estava em qualquer lugar, isso sim, mas não podia ser numa Universidade, com todo o respeito ao esclarecimento.
É verdade, era uma estrada, estrada do descaso, radial do desespero. É mentira, não eram alunos, eram pés-de-alunos, ou alunos pés-de-cana.
רפאל



Um comentário:

Anônimo disse...

Meu nobre amigo Rafa, todas às vezes que leio fico feliz ao ler seus comentários, usas tuas habilidades como um cirugião das palavras, isso mesmo, palavras coerentes, precisas. Não deixas pontos sem o seu devido aperto. Parabéns pelo texto. Muito bom, aqui também tem bastante aluno pé-de-cana. Abraços, Cleberson Williams, Kelé, <><