terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Hexa (escrito em 2006)

Por ocasião da Copa da Alemanha, em 2006, escrevi um "poemanifesto". Percebi como um evento muda as atitudes das pessoas, e, inclusive, como é rica a criatividade de todos. Acho bonita a euforia das festas, mas ainda há aquele resquício de loucura que preocupa a razão. O mesmo ocorre com o Carnaval: deixa todo mundo doido. Ainda tem a TV pra corroborar todo esse sentimento...
Lembro do comentário de uma ex-namorada falando que o cunhado havia deixado o filho ao léu, mas, com certeza, não havia esquecido do compromisso com o Galvão Bueno. Fiquei calado, pois, quem sou eu pra julgar?

Vi muito egoísmo do povo brasileiro nessa época. Críticas vazias às seleções estrangeiras e uma vanglorização da nossa seleção, que, sinceramente, era, sem sombra de dúvidas, muito melhor no PlayStation II.

Hexa

Cadê a pureza, meu irmão?


Deixou teu filho cagado,
a mulher ficou chateada.
Nem açougue, nem supermercado
nem ao menos tampou a privada!

Por outro lado fez um bom estrago
no crédito que tinha em cartão,
comprando em longo prazo
um uniforme da nossa seleção.

Só não contava com a mentira,
essa víbora enrustida.
Stélio da verdade
na nova vida multimídia.

Ao menos não vou ficar estressado,
nem vou mentir pro patrão.
Terça e sexta vai ter feriado.
Rico ou pobre, no altar, a televisão.

O povo gandula
falsifica novo herói.
Vilão da realidade
em tensa união.

A Copa do Mundo é isso mesmo:
um povo que não joga no seu time,
pra vencer, se derrotou.
Além da gravidade,
os gomos dos cabelos
escondem a bola-realidade.

A felicidade não é isso aí:
não é hexa-merda, Brasil.
Só pra quem quer gol,
pois, quem se cagou,
te pega na ressaca!

רפאל

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Marajó

Estive recentemente em Soure, no Arquipélago do Marajó (não é ilha coisa alguma) e passei bons e já necessários momentos em família. Infelizmente não tive a companhia de minha amada, já que ela tinha um compromisso inadiável no fim de semana. De volta à Belém, falei que ia atualizar o blog e então ela me pediu para que compartilhasse as belas fotos da cidade de Soure.

Amore, eu não ia publicar, mas pedido é pedido,
Realmente, são boas fotos,
רפאל







"Enkráticos": ao Prof. Atahualpa Fernandez

Devo o princípio de minha formação moral, intelectual e profissional ao meu estimado professor de Introdução ao Direito, Dr. Atahualpa Fernandez. Esse grande advogado e jusfilósofo me ensinou tudo que eu precisei saber para amar o Direito, amar a ciência e amar a vida em geral. Nunca o agradeci pessoalmente, mas acredito que ele saiba o quanto é importante para um jovem acadêmico a participação efetiva de um grande mestre. Aliás, mestres como ele estão cada vez mais raros, dizem alguns. Eu discordo, acho que não estão ficando raros. Mestres são raros, e deve ser assim.
Meus colegas na nostálgica 1DIN1 com certeza vão recordar do que vou passar a tecer nas próximas linhas, com a certeza de que fomos privilegiados nas nossas lições introdutórias.

Então vamos lá, entrando no túnel do tempo, voltamos para 30 de agosto de 2001, aproximadamente 21h, o nosso mestre ditava as seguintes palavras:

"Uma vez que considerou o direito por um enfoque especialmente argumentativo ou discursivo, ou seja, que se considera o direito como uma atividade ou tarefa problemática cuja finalidade é a realização da justiça, mediante a interpretação e a aplicação da norma jurídica, é preciso considerar que toda a argumentação jurídica tem por objeto, sempre, uma relação jurídica. Sendo certo que toda relação jurídica nada mais é do que uma relação social qualificada como tal pela norma jurídica (direito) e que toda relação terá sempre como sujeito o indivíduo, a finalidade última do direito será sempre a de atender o incondicional respeito a liberdade ou a dignidade da pessoa ou do ser humano.
(...)
Indivíduo:
A formação ou conquista da individualidade, aqui considerada como a constituição de uma pessoa autônoma e independente, exige a condição prévia da institucionalização histórico-secular da liberdade. Significa dizer que a conquista de uma individualidade autônoma e separada pressupõe a liberdade plena do indivíduo, assegurada pelo conjunto de normas de um determinado ordenamento jurídico. Esta liberdade deve ser entendida - para o que aqui nos interessa - como "não dominação", ou seja, que o indivíduo é livre na medida em que ninguém possa interferir arbitrariamente nos seus planos de vida.
Uma vez satisfeito este pressuposto básico é preciso considerar que a conquista da individualidade exige, ademais, de dois requisitos básicos:
1. CONSIDERAR QUE O INDIVÍDUO É O RESULTADO DE UM COMPLICADO PROCESSO DE ARTICULAÇÃO ENTRE UMA ESTRUTURA MENTAL EXTREMAMENTE RICA E ESTÍMULOS PROVENIENTES DE UMA IGUALMENTE COMPLICADA VIDA SOCIAL; significa que a constituição do indivíduo depende sempre da forma como estabelece relações com seus semelhantes, ou seja, que a nossa individualidade e inteligência são essencialmente dependentes das relações sociais. É o olhar do outro que conforma e forma a nossa individualidade. Por essa razão, toda a nossa atividade mental, no que diz respeito a vida social está direcionada para entender, predizer e construir hipóteses sobre o comportamento dos demais. Por esta razão é que nossa atividade linguística está repleta de conteúdo social (fofoca).
2. CONSIDERAR QUE A CONQUISTA DA INDIVIDUALIDADE É ALGO TAMBÉM PROCESSUAL E DE GRAU, OU SEJA, QUE DEPENDE FUNDAMENTALMENTE DO PRÓPRIO INDIVÍDUO: ademais do "olhar do outro" é preciso considerar também que a conquista de um caráter virtuoso depende fundamentalmente da capacidade de todo indivíduo de automodelar-se (ou autolegislar-se). Significa dizer que, por termos uma estrutura mental extremamente rica, vivemos constantemente em conflito conosco mesmos. Logo, essa capacidade de todo indivíduo de automodelar seu próprio caráter e individualidade pressupõe que podemos ter preferências e desejos bons e maus. Ao indivíduo que consegue escolher sabiamente seus melhores desejos e harmonizar os conflitos internos de que padece, denomina-se uma pessoa "enkrática" - com grande força de vontade; ao indivíduo que não consegue escolher seus melhores desejos e harmonizar seus conflitos denomina-se uma pessoa "akrática"."

Mestres são mestres, suas palavras o tempo não apaga, pois a memória e o coração estão sempre reforçando seus traços. Prof. Atahualpa (sem o dr., como você prefere), acredito e tento, a cada dia, ser mais "enkrático" que num minuto anterior. Essa pequena ode vem de um animal político que estima por sua sapiência e longevidade.

Muito obrigado,
רפאל

Amálgama da Vida: "mindful eating", por Thich Nhat Hanh

Existem dois mundos: o mundo que vivemos e o que criamos. Num certo momento, esses dois mundos se fundiram no amálgama da vida. Essa coisa controversa, que fala, sente, cheira e escuta, que somos nós.
O segredo res in medio. Remédio. Inauguro uma série especial aos bloggeiros, que intitulo Amálgama da Vida. Do amálgama surge uma coisa totalmente nova, inexperiente de sentimentos. Do amálgama criamos a paz e o caos. O desejo não vai mais trair a vida consciente e sustentar a (in)verdade cotidiana.
Quid est veritas? Para Adorno, não pode a verdade individual sobreviver a mentira coletiva. Assim, quem mente envergonha-se, não por ter mentido, e sim por ter que participar da mentira de um mundo que lhe obriga a pregar a honestidade e a lealdade.
רפאל
Numa palestra sobre o consumo consciente, o monge e mestre budista Thich Nhat Hanh fala sobre o quanto comer pode ser extremamente violento:
"A UNESCO nos diz que 40.000 crianças morrem no mundo, diariamente, por falta de nutrição, por falta de comida. Quarenta mil crianças, diariamente! E o volume de grãos que cultivamos no ocidente é, em sua maior parte, usado para alimentar o gado criado para ser vendido como carne.
95% da aveia e 87% do milho produzidos nos Estados Unidos não é para consumo humano, mas para os animais criados para consumo. Isso representa o uso de 45% de toda a terra disponível no país.Mais da metade da água consumida nos Estados Unidos é usada na criação de animais de corte. São necessários 2500 galões de água para produzir meio quilo de carne, mas apenas 25 galões para produzir meio quilo de trigo.
Uma dieta totalmente vegetariana requer 300 galões de água por dia, enquanto que uma dieta à base de carne requer mais de 4000 galões de água por dia. Criar animais para consumo causa mais poluição da água que qualquer outra indústria nos Estados Unidos, porque os animais criados para consumo produzem 130 vezes mais excremento que o total da população humana. Isso significa 45.000 quilos por segundo. Muito dos dejetos advindos das fazendas de gado e matadouros são jogados ou fluem para dentro dos rios e córregos, contaminando as fontes de água limpa.
Nos Estados Unidos, os animais criados para consumo recebem como alimento 95% da aveia e 87% do milho cultivados. Estamos comendo o nosso país, comendo a nossa terra.
Eu fiquei sabendo que mais da metade da população come em excesso! Comer de forma consciente - mindful eating - pode ajudar a manter a compaixão em nosso coração. Uma pessoa sem compaixão não pode ser feliz, não pode relacionar-se com outros seres humanos e com outros seres vivos. Uma segunda espécie de comida que consumimos diariamente são as impressões sensoriais, a comida que comemos com os olhos, os ouvidos, a língua, o corpo, a mente. Quando lemos uma revista, nós consumimos. Quando você assiste televisão, você consome. Quando você escuta uma conversa, você consome. E esses ítens podem ser bastante tóxicos. Podem existir muitos venenos, como desejos, violência, raiva e desespero. Nós nos permitimos sermos intoxicados quando consumimos em termos de impressões dos sentidos.
E, da mesma forma, nós permitimos que nossas crianças também se intoxiquem.E o que tem resultado é a nossa doença, o nosso ser-doente, nossa violência, nosso desespero.
E, se você praticar o olhar em profundidade - meditação - você será capaz de identificar as fontes de nutrição, da comida que tem sido trazida para nós.
Portanto, toda a nação tem que praticar esse olhar profundo para a natureza do que se consome diariamente. E, o consumo consciente é a única maneira de proteger nossa nação, nós mesmos, nossa família e nossa sociedade. Temos que aprender o que produzir e o que não produzir, a fim de prover as pessoas apenas com aquilo que é nutritivo e curativo. Nós temos que evitar produzir aquilo que possa trazer guerra e desespero para o nosso corpo, para a nossa consciência, e para o corpo coletivo e para a consciência da nossa nação e da nossa sociedade."

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

FLAGRANTE: Então é Natal?



"Papai Noel,
velho batuta,
rejeita os miseráveis.
Eu quero matá-lo,
aquele porco capitalista.
Presenteia os ricos,
cospe nos pobres."


Quem não conhece esse clássico do punk rock pode sentir a mesma indignação ao olhar para essa fotografia e perceber a condição do trabalhador em época de festas natalinas. Duvido que algum deles se sinta confortável com esse "discreto" gorrinho de Santa Claus. Já dizia meu amigo Paulo Bassalo: "operário padrão, mesmo que aconteça a todo momento ser chamado de besta". É aviltante o que o a necessidade de sobreviver faz com as pessoas, e como os dentes vorazes do capitalismo utilizam dessa fraqueza para triunfar. O Natal é muito importante para o comerciante, pois para ele não é interessante que o trabalhador faça algo útil com seu 13º salário, e sim, financie os investimentos de sua empresa no ano que está por vir. Daí a necessidade de chamar a atenção do cliente (o famoso AIDA: atenção, interesse, desejo e ação).
Alguns podem achar normal, afinal... é Natal! E daí? O Natal não autoriza ninguém a ceder parte de sua dignidade e a CLT dispõe sobre a moralidade no ambiente de trabalho. Por outro lado, e isso é o que prevalece, existe a liberdade do trabalhador em contratar e encerrar contratos de trabalho. Linhas gerais, se resume no direito de aceitar as condições do trabalho ou ficar desempregado.
Para mim isso é assédio moral. Não posso esquecer que debaixo do uniforme do empregado existe um ser humano que tem desejos e convicções que devem ser respeitados. Ao uniformizar o empregado, amorfizou-se o indivíduo, que já pode ser confundido com uma carteira de trabalho. Um passo a frente e o empregado volta a ser propriedade do senhor feudal que é o seu patrão: fiquei sabendo que o empregado dessa loja aí na foto não pode tirar o gorrinho no seu feudo de trabalho.
O engraçado é que os vendedores não utilizam o referido adorno, somente os caixas. Talvez seja porque o patrão sabe que o cliente não vai querer ser atendido por uma pessoa com um chapeuzinho ridículo desses. Ao mesmo tempo, simbolicamente, os gorros demonstram a conexão entre o capitalismo do Natal e a sua atividade tesoureira. O gorro do Papai Noel, aquele porco capitalista, é agora coercitivamente usado pelos humildes trabalhadores, hienas do capital.
רפאל

FLAGRANTE: aluno pé-de-cana


Observem bem a a imagem acima: não, não é o Sul do Pará ou a Transamazônica. É o Terminal de ônibus localizado no terceiro portão da UFPA, na Perimetral, em Belém. Notem alguns alunos aproveitando a sombra do veículo para se proteger do sol. Parece estranho? Eu explico.
A situação enfrentada pelos discentes e trabalhadores da Universidade Federal que utilizam o transporte coletivo para seu deslocamento é vergonhosa. Com a "reforma" do terminal, metade das acomodações para aguardar o ônibus foram destruídas, sem que houvesse o remanejamento das linhas para o outro lado do terminal (esse que aparece no fundo da fotografia). Conclusão: aqueles que necessitam das linhas que saem do terminal no sentido Perimetral-João Paulo II tem que se submeter a dura rotina de esperar o ônibus praticamente na rua, pegando poeira na cara, e isso sem falar dos riscos outros (acredito que a noite a situação deva ser ainda mais delicada), como assaltos e acidentes.
O curioso que presenciei essa situação na última sexta-feira, porém, fiquei sabendo que o referido já ocorre há um certo tempo. Me surpreende a classe estudantil, através dos DCE's da vida, aceitar uma situação dessas. Não busquei saber, mas acredito que nenhum ofício tenha sido protocolado na PMB.
Concomitantemente, candidatos se revezam na campanha para assumir a reitoria da UFPA. Não sei o nome deles ou quem eles são. Será que não é importante zelar pela incolumidade dos alunos? Será que a campanha se encerra nos terrenos dos Campi?
Lembro quando eu estudava lá e tinha que me submeter a uma rotina massacrante para ir à aula: primeiro, saia de casa e passava um bom tempo esperando um ônibus, até descer na Lomas Valentinas e esperar em torno de 20 minutos junto aos vários colegas que se acumulavam no ponto, para então subir num coletivo lotado rumo à UFPA. Então, quando o o ônibus não era assaltado ou apedrejado, eu chegava na Universidade, mas pelo menos chegava na estação, não no meio da rua. Nesta última sexta-feira, o coletivo estacionou no meio da rua, e quando vi, só havia piçarra e poeira ao meu redor. Pensei que estava numa estrada, mas então vi que não haviam plantações, somente alunos, que mais pareciam pés de cana-de-açúcar na beira da estrada, expostos ao sol e à chuva, comendo poeira e ignorados. Estava em qualquer lugar, isso sim, mas não podia ser numa Universidade, com todo o respeito ao esclarecimento.
É verdade, era uma estrada, estrada do descaso, radial do desespero. É mentira, não eram alunos, eram pés-de-alunos, ou alunos pés-de-cana.
רפאל



terça-feira, 18 de novembro de 2008

Smashing Pumpkins - I'm in love with you!



Fontes fidedignas informam que a banda estadunidense Smashing Pumpkins pode vir ao Brasil em 2009, como parte de sua turnê comemorativa de seus 20 anos de estrada. Para mim, um pumpkin' lover de carteirinha, essa passagem é mais importante que um cometa, pois simboliza as memórias de minha juventude, todas elas alimentadas pelos discos lançados nos idos e queridos anos 90. Lembro do lançamento dos grandes álbuns deles, em especial o álbum Mellon Collie and the Infinite Sadness, lançado em 1995, que veio a tornar-se o CD duplo mais vendido no mundo, superando a marca de grandes medalhões, como The Wall, do Pink Floyd. Naquela época, o rock alternativo transmitia uma segurança incomparável aos seus ouvintes. Parecia que a música tinha encontrado um meio de sobreviver, mesmo que todos aclamassem a "morte do rock". Na minha opinião, fomos uma geração muito feliz. O rock dos anos 90, embora eminentemente estrangeiro, foi um marco na minha geração. Sinceramente, acho mais rico que o rock oitentista, um vez que representa muito mais para mim.
Smashing Pumpkins no Brasil! Quem diria! Em agosto de 1998 eles estiveram aqui e tocaram em São Paulo. Eu infelizmente perdi o show. Estava lá em Sampa de férias em julho - foi por muito pouco. Prometi a mim mesmo que, se houvesse outra oportunidade, não perderia de jeito algum. Deus é um cara legal e parece que vai me permitir isso. For the last time, Smashing Pumpkins!

Aos pumpkinianos, vamos reestruturar a nossa paixão e compartilhar tudo isso, sugiro uma visita ao Smashing Pumpkins Internet Fan Club, http://www.spifc.org/

רפאל


quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Joelho de porco e, pasmem: laranjinha de caldo de galinha!



Quando imagino que já estou um coroa-enxuto e que nada mais vai me comover ou assustar, bem, é exatamente quando me surpreendo com coisas para mim inimagináveis. Meu estimado professor Georgenor de Sousa Franco Filho uma vez me disse: "no dia em que achar que não sabe de nada, pode acreditar que acaba de aprender alguma coisa". Em Puerto Iguazú, ouvi falar de um tal sorvete de flor. Aí lembro da sorveteria Santa Marta, que era a única que fazia sorvete de pupunha. De férias em Foz do Iguaçu, tive a oportunidade de provar o famoso Heinsbein, ou joelho de porco: muita mídia pra pouco sabor - sinceramente, tem gosto de chulé!
Mas não é disso que queria tratar. O que tem me impressionado são os fatos corriqueiros na imprensa em geral, baseados em condutas violentas que assustam e traumatizam diversos brasileiros. Hoje em dia a regra das ruas é espancar ladrão até a morte. A regra das famílias é o filicídio; dos filhos, parricídio, matricídio, avuncolicídio... Não sabemos mas em quem confiar.
Em meio a tudo isso o filósofo francês Luc Ferry declara a família como a única célula capaz de resgatar os valores, uma vez que até a fé religiosa é insatisfatória. Para ele os fiéis de hoje não morreriam pela igreja (no mundo ocidental), porém, o fariam pela família. O que tenho visto no noticiário são pessoas matando a família e morrendo sem fé. Aí não entendo mais nada.
Para Hannah Arendt o colapso da sociedade aconteceria quando os valores transcedentais não mais sobreviveriam aos vícios cotidianos. Essa "banalização das injustiças", como afirma Arendt, tornaria o homem inerte quanto as barbaridades e familiarizado com o caos instaurado.
Agora vejamos o caderno policial do Diário do Pará: se você espremer, escorre sangue. Se ler, tem que achar um meio de considerar tudo dentro dos conformes, mesmo que fora da ordem. Espancamento de bandidos, tortura de acusados, banalização de vítimas e incoerência do Estado são tudo que temos para ler, diariamente, atualizados num grande F5 dos jornalistas. O clima está sempre temperado: caos torrencial com pancadas de injustiça.
Imagino o que meus filhos um dia vão pensar quando aos oito anos de idade tiverem discernimento para conhecer e reconhecer a violência em todas a suas formas. Penso que ainda existem meios de contornar isso. Imagino tudo que envolve essa transformação - aí penso que eu não existo mais. Façam suas apostas... será que temos culpa? Para Feuerbach, somos o que comemos. Se estamos consumindo toda a violência, espancando pivetes, pretendendo a matéria viva, alimentando egoísmo, proliferando ódio e destruição, provavelmente somos o monstro do Leviatã.
Eu de minha parte estou consumindo tudo isso como bizarrice e mídia fajuta. Por falar em bizarrice, ontem soube de mais uma para minha quase-branca-cabeça-de-coroa-enxuto: é que no bairro do Benguí, existe uma senhora que faz laranjinha de caldo de galinha! Isso sim é curioso! No diapasão de Feuerbach, se "what you eat you are", deve ser esse o meu menu mais trivial: joelho de porco com laranjinha de caldo de galinha!
רפאל

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Jubileu do ano 2000 (escrito em 1999)


Jubileu do ano 2000

O Jubileu já tá chegando,
todo prosa e moribundo.
Emancipando o submundo
que já teme seu chegar.

Rezo terço acordado
já temendo o Diabo,
e o bebum despreocupado
pede a Deus para ficar.

Crença doida e doentia,
paisagismo e homilia.
Satanás condecorado
brilhou queimando a velha chama.

Se já é hora, o Juizado.
O Jubileu tá atrasado
e o seu império penhorado.
Coisas de um povo condenado.

E se intriga com a peste
que tem "page" na internet.
Saiba que meu corpo
a injeção não vai tomar.

Globalizaram teu teatro
e esqueceram o cadeado.
Entre risos e fracassos,
eu trago o sonho congelado.

Mas a vida eu não temo
e o degelo do tempo
eu queria acelerar.

A medida do tempo,
a gaiola por dentro,
a questão do momento
que espero pra me mandar.

O Jubileu é uma piada,
excitada com Viagra.
É só sorriso e gargalhada
e mais nada pra mostrar.

Já me preocupa a tua vontade
pois desconheço a realidade.
Interferiste na viagem
que o teu sono ignorou.

Seja qual for a fachada
tua estrutura é desmembrada,
comprimida e espalhada
em bilhões de bilhões.

O Jubileu é uma farsa,
o verdadeiro é bomba armada.
É desespero de passagem,
é cortesia para entrada,
é universo paralelo,
é um jornal mais preocupado,
é poesia do Bassalo,
é parabéns e aniversário,
é um ser vivo em vez de morto
(um horizonte mais exposto).

É recriar a molecada,
e começar a cachorrada
mesmo louca e desmembrada.

O Jubileu não tá com nada
e tudo novo quer brotar.

רפאל

De férias


Aos bloggeiros, peço perdão pelo sumiço. Estando de férias - inclusive do computador - tive um ligeiro afastamento do blog, porém nada prejudicial. Neste meio tempo, vi e desfrutei de uma grande verdade: não há verdade que seja suficiente para nos satisfazer, a não ser que tenhamos discernimento. Kant dizia que, por não conseguir nos fazer felizes, Deus nos deu a inteligência...

É bom estar, bom ir... melhor ainda é querer mais: as vezes é melhor do que poder. A felicidade desesperada é um vício da humanidade. Encontro e despedida.
Satisfação estar aqui, רפאל

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Setembro

Sempre gostei muito da atmosfera do mês de setembro. Coloco-o entre os meses do ano que mais aprecio, juntamente com maio e janeiro - odeio março e agosto.
A natureza disso, eu desconheço. Mas admito que há nele algo de especial. Talvez seja em razão dos aniversários de vários amigos e conhecidos: Luciano Palmeiro (5), Diego Rodrigo (8), Diego Gonzalez (3, hoje), et al, todos os grandes amigos que agradeço diariamente ter ao meu lado. Em especial, os aniversários das librianas Irinéa Brito (27) - minha mãe, celula mater de minha existência - e minha querida Leidiane Pereira (28), recém chegada em minha vida, porém, já ocupante de local privilegiado nela.
Acredito que muito se deva também ao início da primavera, muito embora aqui em Belém do Pará a mudança das estações seja fato desconhecido. Nesta terrinha, só existe: uma época que chove muito e faz calor, e outra época, onde chove menos e faz mais calor ainda!
Outra paixão que tenho por setembro são devidas a minha época de infância. Lembro dos bombons de São Cosme e Damião no dia do aniversário da minha mãe - normalmente, dia de comilança lá em casa. Depois do belo rango, eu partia pra rua, atrás dos vizinhos que distribuíam bombom em suas casas. Lembro dos meninos mais pobres brigando pelos pirulitos e jujubas. Lembro daquele pirulito grande e achatado, que eu só via nesse dia e no nostálgico programa do Chaves.
Outra data interessante na minha infância era o Dia da Árvore (21). Lembro dos trabalhos de classe no Colégio Santa Catarina envolvendo belos desenhos e plantas. Lembro do dia em que plantei um grão de feijão num chumaço de algodão - e grelou!
Em suma, setembro é bastante especial. Curiosamente, tenho essa sensação até hoje. De maio, gosto das noites; de janeiro, das perspectivas. Mas setembro... não sei ao certo.
Já escreveram sobre as águas de março, os ventos de maio, o outubro de homem... mas, de setembro, eu desconheço. Quem sabe seja a minha deixa. Relembro, relembro... SETEMBRO! רפאל

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Minima Moralia - Dedicatória de Adorno para Horkheimer


Theodor Adorno dedica seus ensaios de "Minima Moralia: fragmentos..." ao seu amigo Max Horhkeimer.
Para os que não conhecem a obra, aconselho a leitura e reflexão de um dos textos mais sérios da filosofia contemporânea.

O trecho abaixo é parte da dedicatória de Adorno. Espero que seja compreendida em sua totalidade, pois é de uma sinceridade rara.

Boa leitura, רפאל


"A melancólica ciência, da qual alguns fragmentos ofereço ao meu amigo, refere-se a um domínio que, desde tempos imemoriais, se considerou peculiar à filosofia, mas que a partir da transformação desta em método caiu no desrespeito intelectual, na arbitrariedade sentenciosa e, por fim, no esquecimento: a doutrina da vida reta. O que outrora para os filósofos se chamou vida converteu-se na esfera do privado e, em seguida, apenas do consumo, a qual, como apêndice do processo material da produção, se arrasta com este sem autonomia e sem substância própria. Quem quiser experimentar a verdade sobre a vida imediata deve indagar a sua forma alienada, os poderes objetivos que determinam, até ao mais recôndito, a existência individual. Falar com imediatidade do imediato dificilmente é comportar-se de modo diverso dos escritores de novelas que enfeitam as suas marionetes com as imitações da paixão de outrora quais adornos baratos e que deixam atuar personagens que nada mais são do que peças da maquinaria, como se ainda pudessem agir enquanto sujeitos e algo dependesse da sua ação. A visão da vida transferiu-se para a ideologia que cria a ilusão de que já não há vida.
Mas a relação entre a vida e a produção, que degrada efetivamente aquela a um fenômeno efêmero desta, é de todo absurda. Invertem-se entre si o meio e o fim. Ainda não se eliminou totalmente da vida a suspeita do inconseqüente quid pró quo. A essência reduzida e degradada luta tenazmente contra o seu encantamento de fachada. A alteração das próprias relações de produção depende em grande medida do que ocorre na "esfera do consumo", na simples forma reflexa da produção e na caricatura da verdadeira vida: na consciência e inconsciência dos indivíduos. Só em virtude da oposição à produção, enquanto não de todo assimilada pela ordem, podem os homens suscitar uma produção mais dignamente humana. Se de todo se eliminar a aparência da vida, que a própria esfera do consumo com tão más razões defende, triunfará então o malefício da produção absoluta.
Há, contudo, muita falsidade nas considerações que partem do sujeito acerca de como a vida se tornou aparência. Porque na atual fase da evolução histórica, cuja avassaladora objetividade consiste apenas na dissolução do sujeito sem que dela tenha nascido novidade alguma, a experiência individual apoia-se necessariamente no velho sujeito, historicamente condenado, que ainda é para si, mas já não em si. Ele julga estar seguro da sua autonomia, mas a nulidade que o campo de concentração patenteou aos sujeitos ultrapassa já a forma da própria subjetividade. À consideração subjetiva, mesmo criticamente acutilante acerca de si mesma, cola-se um [elemento] sentimental e anacrônico: algo do lamento pelo curso do mundo, que seria de rejeitar não pelo que neste há de bondade, mas porque o sujeito que se lamenta ameaça ancilosar-se no seu modo de ser, cumprindo assim de novo a lei do curso do mundo. A fidelidade ao próprio estado da consciência e da experiência está sempre sujeita à tentação de se transformar em infidelidade, enquanto renuncia ao discernimento que transcende o indivíduo e chama tal substância pelo seu nome."

O Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) e o Relativismo Cultural na Amazônia - Breve Ensaio

É inevitável que a política interna e externa de cada Estado-membro da imensa área da América do Sul atinge, mesmo que por via oblíqua, as relações internacionais e o desenvolvimento do próprio Direito Internacional na América Latina. Neste sentido é que a técnica jurídica comum à práxis do direito interno deve ser vista por outra ótica nas relações jurídicas internacionais, uma vez que para estas relações o direito ganha um viés político-estratégico.
Assim, para um melhor tratamento das relações internacionais em âmbito amazônico, indispensável é o reconhecimento da existência do relativismo cultural no discurso jurídico, e mais ainda, do reconhecimento de que esse relativismo se faz presente nas relações humanas quase que em sua totalidade, portanto a ciência do direito jamais poderia ficar à margem desta concepção, uma vez que o direito é eminentemente cultura de uma certa sociedade em um dado local e tempo. Significa dizer que a historicidade da ciência do direito confere legitimidade aos atos jurídicos realizados em cada época e local.
O Pacto Amazônico encontrou (e ainda encontra) diversos óbices para a sua efetiva implementação, inclusive, resistências culturais que representam a maior força representativa da sociedade internacional (ainda em formação). Força essa que age ora anuindo, ora discordando dos efeitos e da forma que a aproximação dos Estados se apresenta. No caso específico da pan-amazônia, diversos são os fatores que, influenciados pela cultura e noção de mundo, traduzem-se em opiniões e manifestações sobre as relações internacionais. Neste sentido, questiona-se de que forma a integração amazônica internacional é possível, mediante a força representativa da cultura, e de que forma podem as relações internacionais atingir objetivos mediante esses conceitos relativos e até que ponto os tratados internacionais são suficientes, e mais especificamente o Tratado de Cooperação Amazônica viabiliza a evolução nas relações pan-amazônicas, considerando que dificuldades são encontradas na região no que diz respeito à Amazônia.
O TCA não é objetivo no tratamento da questão cultural, assim como outros tratados atribuem a cultura valor supletivo; percebe-se que não há na doutrina jurídica tratamento específico deste aspecto das relações interestatais, assim como à idéia de equidade, também muito mitigada. Somente no âmbito dos direitos humanos, utilizando de noções oriundas da antropologia cultural e jurídica, é que o direito toma para si esse elemento do discurso jurídico internacional. Muitas vezes, o discurso da globalização é tido como um discurso “lugar-comum”, que não considera os possíveis equívocos e contradições que o fenômeno pode apresentar. No âmbito da ciência do direito, as inúmeras desconsiderações do tema frente a uma noção plástica e compartimentada da globalização pode levar uma tautologia jurídica, no que diz respeito ao discurso jurídico, o que, conseqüentemente, pode acarretar na ineficácia do diálogo transcultural do direito.
A noção de Direito no contexto das relações internacionais é passível de receber conotações e interpretações diferenciadas pelos Estados ou sujeitos da sociedade internacional. Sob esse prisma, a dificuldade encontrada em produzir normas internacionais que sejam, de alguma forma, válidas em plano supranacional, encontra tanto as dificuldades atinentes aos aspectos de legalidade e legitimidade, quanto a dificuldade em ser aceita e respeitada pelos aspectos mais íntimos de uma sociedade. A superação de princípios e valores locais, bem como a harmonização da legislação interna às questões de interesse internacional envolvem uma atividade de auto-superação motivada pela determinação estatal em atuar no cenário internacional para satisfação de interesses de mesma natureza.
A dificuldade apresentada pelas concepções relativistas e universalistas da cultura dificultam ao discurso jurídico o pleno êxito das relações internacionais, o que acarreta muitas vezes na visão prejudicada que a cultura jurídica – em especial a cultura jurídica brasileira – reserva ao Direito Internacional Público, conservando ainda uma visão que acaba por colocar este ramo do Direito em plano secundário, o que em suma, é uma atitude de pleno desrespeito embasada por uma visão relativista da cultura, muitas vezes formulada em contraponto ao entendimento universalista desmesurado, baseado em conceitos vagos que aludem a uma “globalização”, ou “processo de integração”, partindo de uma noção compartimentada e limitada do processo que envolve a globalização e a formação da sociedade internacional.
Percebe-se que o relativismo cultural alimentou a resistência e o descaso de muitas nações sobre as questões de cunho internacionalista, o que contribuiu para a formação da visão secundária do Direito Internacional, manifestada por muitos governos quando da elaboração do Tratado de Cooperação Amazônica, através de restrições expressas, sob a alegação de proteção à soberania estatal. As relações internacionais encontraram – e ainda encontram – imensa dificuldade em satisfazer os interesses locais dos Estados em tão somente “conseguir para si” benefícios com a celebração de tratados internacionais, o que, obviamente, prejudica o objeto das relações dessa natureza, que é justamente a satisfação da sociedade internacional. O relativismo cultural reproduz noções e conceitos para fins de restringir a atividade e a visão “globalizante”, bem como a tendência natural do desenvolvimento das relações internacionais, manifestada pela necessidade de cooperação dos países no contexto global para a satisfação de necessidades continentais, regionais, ou mesmo mundiais.
Por outro lado, a concepção universalista muitas vezes provoca um discurso jurídico tautológico, baseado na mera reafirmação de conceitos e princípios “universais”, inerentes ao ser humano em natureza. Tal concepção acarreta na não-aceitação desmesurada em compartilhar da visão universalista, posto que seu conteúdo, na grande maioria das vezes não atine para dificuldades locais ou mesmo silencia a considerar esses aspectos, o que faz com que a sociedade tenda a repelir muitas vezes essa visão global da cultura – por via oblíqua, o próprio Direito Internacional.
Através de uma análise breve do desenvolvimento do Tratado de Cooperação Amazônica, percebemos um crescente interesse dos países amazônicos no desenvolvimento do Tratado. Esse interesse é alimentado pelas dificuldades enfrentadas pelos Estados em estabelecer políticas que assegurem o desenvolvimento da região amazônica, passando tais países a acreditar no instrumento do Tratado como um meio para superação e garantia dos direitos na região. Tal entendimento configura uma evolução considerável no desenvolvimento das relações internacionais na Amazônia, pois demonstra que o desenvolvimento do Direito Internacional depende, em última instância, da formação de uma cultura de Direito Internacional, e o afastamento de concepções e manifestações relativistas baseadas em uma visão estanque da cultura e dos direitos humanos. A Declaração de Belém, elaborada por ocasião da I Reunião dos Ministros das Relações Exteriores demonstra como a articulação política dos países amazônicos era ainda incipiente quando da celebração do Tratado, o que está consignado através de um documento que pouco faz além de reiterar o preâmbulo do Tratado. Por outro lado, conforme a necessidade de se criar mecanismos harmoniosos para satisfação dos interesses vitais desses países sobre a Amazônia cresce, cresce também o valor atribuído ao Tratado como instrumento viável para garantir a defesa da Amazônia, bem como o paradigma da sustentabilidade e do manejo de recursos naturais, sem prejuízo do interesse político e econômico do mundo na região. Tal interesse é confirmado pelo constante fortalecimento institucional do TCA, através da criação de Comissões Especiais e Permanentes para estudo e manejo de questões amazônicas, bem como da criação da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica – OTCA.
Porém, muito embora haja interesse político em mobilizar relações internacionais para atingir interesses econômicos internacionais comuns, a efetiva integração de países envolve uma tarefa árdua de harmonização de princípios. A dificuldade do universalismo é justamente estabelecer discurso coerente com a realidade local em detrimento dos interesses internacionais comuns aos países amazônicos; por outro lado, o discurso tradicional e muitas vezes ortodoxo proposto pelos adeptos ao relativismo cultural acaba por gerar um efeito protelatório ao bom andamento das relações internacionais na Amazônia, através de uma conduta inclinadamente tolerante, onde observa-se uma tolerância vazia e indiscriminada, manifesta através de repetidos discursos sobre a integração regional e a aproximação da cultura Amazônica.
O problema que se mostra é determinante para o desenvolvimento de uma cultura amazônica, pois, partindo-se de concepções estanques, ou seja, fundadas em uma só cultura, torna-se inoperante o aparato internacional, justamente por não haver meios de superar antigas dicotomias da Ciência Jurídica, onde muitas vezes não só a conduta relativista é prejudicial, mas também a própria noção de soberania estatal e a força que ela representa para o Estado e o Direito.
Percebe-se quão grande é a dificuldade encontrada em fornecer elementos para uma nova noção de sociedade, vista agora sob o prisma supranacional, posto que as dificuldades da região amazônica invocam a força representativa da cultura local para desvirtuar ou mesmo dissimular a necessidade crescente da integração regional como processo formação de uma nova trajetória para a sociedade.
Admite-se que o relativismo cultural demonstrado em pré-conceitos acerca das razões para a cooperação e a integração amazônica significa uma postura diametralmente oposta ao discurso universalista ordinário, que muitas vezes não suscita diversidades culturais e dificuldades locais para o processo de formação da sociedade global, que, acima de qualquer coisa, não deve ser feito através da deformação do Estado, e sim, através de uma transmutação, que envolve a difícil tarefa de reconhecer os problemas e dificuldades internas de cada país amazônico. Tal tarefa supõe um processo de concessões mútuas, que demonstrem de que forma á devida integração é possível. O caráter solidário das relações internacionais é fundamental para a compreensão da formação de um fenômeno novo e inédito na história mundial.
A necessidade de discutir-se a importância do diálogo transcultural do direito nas relações internacionais invoca um novo passo para a hermenêutica jurídica contemporânea, no sentido de compreender quais óbices são verificados na consolidação de projetos de sociedade a nível internacional, bem como que critérios podem ser utilizados para harmonizar conflitos, sem que seja necessário entregar-se de antemão ao reducionismo do relativismo cultural, que de forma alguma questiona o problema fundamental e sua importância para o direito a sociedade internacional.
Dessa forma, a superação do relativismo cultural pode contribuir para o enriquecimento do diálogo transcultural do direito na região amazônica, o que possibilita ao Tratado de Cooperação Amazônia, através da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, envolver os atores internacionais em uma atmosfera de constante superação de conflitos determinados pela cultura local – o que envolve o Direito Interno – para consolidar assim um projeto de sociedade pan-amazônica, sem que haja, para tal, a imposição de valores ou interesses com inobservância desses aspectos da sociedade.
רפאל

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Ode aos Militares - Poema do amigo Paulo Bassalo


Em comemoração ao dia do soldado, gostaria de relembrar um poema do meu querido amigo Paulo Bassalo, um grande vanguardista. Na minha opinião, diferentemente dos críticos que consideram subversão e anarquia conceitos impreterivelmente negativos, acredito que o verdadeiro anarquista é sim um grande romântico. O Paulo para mim foi um desses, um coração sem limites...

Ao amigo Paulo, in memoriam, um fraterno abraço, onde quer que tu estejas.

רפאל

ODE AOS MILITARES

Aos militares brasileiros
de ontem, de hoje e de sempre.
Enquanto cagam,
papel higiênico de listras verdes e amarelas.
A mão direita no peito,
a esquerda em continência.
Na cozinha, a mulher de bobs no cabelo,
entoando a canção "The Star Spangled Banner".
Se é que posso chamar isso de canção...
...e aquilo de mulher!
De sorte eu posso me considerar.
Nunca servi de besta, eu nunca fui militar!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Curado por Deus - Muito Obrigado!


Recebi um comentário de um amigo da nostálgica faculdade de Direito sobre este blog. Não posso deixar de postar o que imagino ter sido uma breve interpretação de meu intuito de compartilhar idéias, críticas e outras criações pessoais. Obrigado Cleber, mais uma vez, te devo esta ode.
Calma e elegância,
רפאל
Meu amigo, gostei de seu blog, o nome é certamente fruto de uma mente brilhante - Curado por Deus - quanto têm essa alegria de ser curado por Deus, e quantos não buscam essa cura, vivem doentes, nos vícios, na indole desconstrutiva dos valores, ou seja, a inversão dos valores como cita Maquiavel: "se vives em um mundo em que fazer o errado é certo, se tentas fazer o certo és errado". Essa realidade distante de nós. (...) Meu amigo Rafa, parabéns pela criação do blog, aqui manifestamos o que somos, pois conhecemos os amigos, as palavras são reflexos do que vivenciamos. Só somos curados quando aceitamos a verdade de Deus, essa é transformadora, e o melhor, não é por crediário, muda-se à vista, por inteiro. Morrer para renascer. A velha natureza, que contamina o homem não mais nos domina, não somos mais escravos de vícios, somos seres transformados. Amigo Rafael, que Deus sempre ilumine teus atos, vc certamente é uma pessoa sensível ao outro. Um fraterno abraço do amigo que te admira muito. Cleberson Williams, <><

Homofobia na sociedade


Tenho uma amiga que costuma se irritar e muito quando eu falo sobro o homossexualismo. Eu tenho que dizer sempre para ela: Virgínia, minha opinião é minha opinião e minha crítica é construtiva, senão, seria deboche!
A verdade é que não desfruto da opinião geral que se faz do homossexualismo hoje. Essa tolerância desvairada e extrema para mim é típica de uma opinião lugar-comum, típica de quem não tem o que opinar. O exercício da "ação afirmativa", no que tange aos direitos dos homossexuais, para mim é o exercício de um preconceito e uma ofensa aos padrões morais da sociedade. Se é que ainda existe sociedade moral, pois como afirmou Nietzsche, não há fenômenos morais, e sim, interpretações morais, pois nem sempre o que fazemos com a melhor das intenções é nesse diapasão interpretado pelo outro. Repouso nessa idéia o meu direito de criticar a conduta geral da sociedade sobre o assunto.
Lembro do que meu pai fala: "na Inglaterra, o homossexualismo já foi proibido. Depois passou a ser tolerado; depois, respeitado. Agora, é disciplinado pelo direito... daqui a pouco é obrigatório! É exatamente a isso que me refiro. Que perspectiva futura é pretendida e qual o argumento moral para essa postura? Paliativo?
Quando vejo na televisão notícias e imagens do movimento gay na Avenida Paulista, fico prostado a acreditar que aquilo tudo esconde muitos segredos. Quem financia isso tudo? Qual a intenção de divulgar esses eventos como se fossem o Círio de Nossa Senhora de Nazaré? Estranho e comento com amigos o assunto, que considero inversão dos valores sexuais.
Sinceramente, minha aversão à hipocrisia não me permite aceitar naturalmente essa condição: para mim, há muita imposição de valores. Não é preciso ser relativista ou universalista para perceber...
Quero deixar claro que não defendo nenhuma atitude radical quanto aos homossexuais, pois sou contra a violência em qualquer espécie que ela venha a ser exercitada, mas meu amor-próprio me obriga a expor a verdade para os outros. Não gosto dessas atitudes, não posso esconder que muitos homossexuais não convivem pacificamente com a sociedade. Primeiro, muitos imaginam que qualquer homem seja um gay em potencial - o que é aviltante; segundo, muitos promovem ações com atitudes escandalosas, quase pornográficas, claramente ofensivas ao pudor ordinário - como o movimento gay.
Defendo sempre a revisão dos valores vanguardistas, sem pensamento retrógrado, é claro. Para mim, a democracia tem limite, e esse limite é a demagogia. Parem para pensar um pouco...
Quando me perguntam meu perfil, eu respondo brincando e a Virgínia se irrita: sou heterossexual, monogâmico e homófobo, pois para mim, homem que é homem não toma mel... MASTIGA ABELHA!
רפאל

Esteio de ninguém

Ultimamente, tenho sido contemplado com a oportunidade de conhecer grandes pessoas e, óbvio, agradeço muito à Deus por tudo isso. Talvez eu estivesse caminhando por vias oblíquas, o que geralmente nos deixa próximo do endereço do tédio e da insatisfação. Por sorte, minha calma e elegância atuaram mais uma vez em minha vida para me indicar o caminho.
Numa dessas oportunidades, conheci uma bela mulher. Sorridente, de expressão leve e tranqüila, não pude evitar: tive que conhece-la. Paulistana, 30 anos de idade, estava acompanhada de uma amiga, tomando uma cerveja lá no Chico Mineiro. Conversamos muito e de cara ela me perguntou se tinha namorada. Disse que não. Ela me perguntou se queria namorá-la. Não soube o que responder, só pensei: isso jamais tinha me acontecido, quanta rapidez... Me senti a mulher da mesa, levando cantada e ficando sem jeito. Só sei que aquela noite de Lua cheia me trouxe com sua luz a oportunidade de apreciar bons momentos ao lado daquela pessoa. Sou cativado por isso, pessoas diferentes, com jeito bastante peculiar de pensar e agir. Exatamente o que vi nela: uma educação e fineza incomuns hoje em dia, uma certa timidez e uma beleza individualíssima.
Paqueramos durante uma semana, depois entregamos para Deus. Lembro de nossas conversas sobre determinação e objetivos na vida, bem como das dificuldades de alcançar o que se almeja. Em uma palavra ela definia tudo: FOCO. Precisamos de um foco, um caminho, e não forçosamente se entregar aos intempérios. Ela dizia: "você é seu próprio esteio, não pode ser esteio de ninguém". Concordei com ela e fiquei super feliz com tudo que ouvi e aprendi em sua companhia. Hoje tenho a honra de comemorar a sua amizade.
Em homenagem, comemoro o aniversário da leonina no próximo dia 21 com um poema que foi musicado por Adriana Calcanhoto, de um poeta português que eu não sei o nome. Refere-se diretamente ao esteio, coisa que nunca fomos um do outro. Um beijo, parabéns!
רפאל

"Eu não sou eu, eu sou o outro
sou qualquer coisa de intermédio.
Pilar da ponte de tédio
que vai de mim até o outro."

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

M(EU) CONSCIENTE

Esta letra foi por mim adaptada do ensaio nº 6, das Minima Moralia de Theodor Adorno. Não posso esquecer de dizer que o ensaio original foi escrito há mais de cinquenta anos, porém, conserva uma atualidade cósmica. A forma ensaiada de escrever é fabulosa, pois possibilita ao escritor e ao leitor total liberdade. Isso sim fundamenta a arte.
Dei o nome de m(eu) consciente, mas chame do que quiser,רפאל



Meu consciente,
suficiente,
num contexto falso.

Minando a verdade,
completa a traição.

De cada ida ao cinema,
apesar do cuidado,
saio pior
e mais abestado.

Confunde a fraqueza
e domina a pobreza
com a diversão do solidário!

Calma e elegância - Ao amigo Cleber Williams

Tenho muita saudade dos tempos da faculdade de Direito. Não pelo curso, e sim, pelos colegas e amigos envolvidos naquela atividade. Em especial, sinto saudades da companhia e efervescência de idéias de um amigo: Dr. Cleber Williams. Esse cara me ajudou muito no amadurecimento profissional e desenvolvimento pleno. Uma das coisas interessantes que aprendemos juntos na faculdade aconteceu numa palestra do reitor da Universidade da Amazônia, Prof. Edson Franco, que compartilhou conosco um ensinamento mais que fundamental. Disse ele: "meu pai, grande homem, uma vez me disse: filho, na hora de tuas angústias, calma e elegância."
Essa frase valeu por todos os cinco anos de faculdade, e a amizade do Kelé, essa então não tenho nem como comentar. Um abraço fraterno ao amigo, hoje no Estado de Alagoas com sua linda família.
Em homenagem, quero postar um belo texto do blog do Cleber, disponível em cospess.blogspot.com
Boa leitura,
רפאל
Segunda-feira, 16 de Abril de 2007

Tu és o cão, diabo
Essa foi a frase que escutei em uma das aulas que estava ao lado da sala, observando a professora de uma escola fundamental, dizer para um aluno. Não fiquei surpreso, queria ter gravado a aula, a professora estava tendo um ataque de nervos, se é que ainda tinha esses nervos. Não sei como pode uma professora lecionar nessa situação, gritos e mais gritos, imagino que as crianças devem ter uma boa imagem da escola, percebi na hora do lanche e da saída, era uma gritaria só, em deixar o colégio, e mais interessante é que ao chegarem na escola não se grita tanto, só os professores gritando para os alunos irem para as salas de aula. E não poderia deixar de comentar, vendo as imagens de crianças descalças a maioria, já que não tinham sapatos ou sandálias, lembrei de minha infância, em que ia para a escola com sandálias havaianas aquelas que não soltavam as tiras e nem deformavam, e em menos de 3 semanas colocava-se grampo na divisória dos dedos, pois já havia soltado as tiras de tanto caminhar, naquele tempo era um atestado de pobreza ira para aula de sandálias havaianas, era só os que não tinham sapatos que usavam havaianas, hoje usar havaianas é luxo, a R$ 15 reais, quem é que pode se dar ao luxo de usar uma havaiana há 15 reais. Mas voltando ao assunto, dos pés descalços, se alguem já observou os quadros que retratam a escravidão, saberá o que estou comentando, os escravos eram os pés-rapados, pois não usavam sandálias, ou sapatos, já que objetos não usam sapatos, apenas as bonecas portuguesas ou francesas. Os sapatos ficavam para o uso dos senhores. Assim imaginei naquela escola do interior próximo há uns 70 quilômetros da capital, pessoas indo a escola sem sapatos ou sandálias. Escravos em tempos contermporâneos. Coisas de brazil, imagine se esse quadro é visível aqui nesse estado tão grande e tão rico. é verdade o brasil não conheçe o brazil. Cospess.

Theodor W. Adorno


Quando descobri os escritos de Theodor W. Adorno, percebi que estava diante de um novo momento em minha vida. Percebi que um intelectual pode sim ser reconhecido por um esforço desumano para tentar ser compreendido sem descomplicar as coisas. Nas palavras do próprio Adorno, "proximidade à distância".

Como cheguei ao fino trabalho dele, isso não importa. Adorno é hoje meu demônio particular, que me atormenta com sua exigente postura e me delicia com a contemplação da desgraça.

רפאל

A Capital Federal

Tenho saudades da Capital Federal. A única certeza que tive ao visitá-la é que não estava num local qualquer, e sim, num grande projeto arquitetônico e cultural. Brasília é importante sim para o Brasil. Demonstra a dificuldade de um povo em realizar-se, em ser feliz, desbravando as estradas brasileiras em busca de seu cantinho de terra. רפאל

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Contos Modernos - Poema do amigo Rogério Barret

Em homenagem ao meu querido amigo Rogério Barret, relembro um poema que ele cuidadosamente escreveu e musicou no ano de 2001. Todos lembram, ano do apagão. Devem lembrar também daquela sexta-feira que ficamos todos nas trevas, embaixo de uma típica chuva parauara. Todos esses fatos contribuiram para a determinação do Rogério em não deixar passar em branco. Aliás, bem lembrado: NADA deve passar em branco. Prefiro o preto no branco do papel...
Abraço ao amigo R. Barret, curtindo as Cataratas de Foz do Iguaçu.

רפאל



CONTOS MODERNOS

Bosta no FHC,
é o que todo mundo quer fazer.

A situação ficou preta
numa dessas sextas-feiras.
A situação já tá preta,
todo dia é dia de feira!

E a cesta congelada
à base de gelo de peixe,
e o preço congelado
lá no pico Everest
de um país tropical.

A tradição aqui é
que tudo acabe em Carnaval.
Aqui tudo vira bacanal.

Tá tudo pela hora da morte,
se bem que já não tá muito longe.
Somos só contos modernos
dos velhos livros de História.
Somos versões hi-tech
do que já lemos antes.

Bosta no FHC,
é o que todo mundo quer fazer.

A vida pra noite é uma noite constante

Bonde passa,
Lombra passa,
Chuva passa.
Só o que não vem é o que não passa.

E o que foi, se foi.
Passou a data e a hora,
e não tinha nem hora marcada.

Chuva na cara,
na máscara dos que riem.
Não se pode ser assim
se não se pode ser pra si.

Não se pode ter um fim,
chuva no tempo, no tempo ruim.


רפאל

Perseverança e sorte


O que ainda me intriga é saber como, mesmo conhecendo as consequências, um indivíduo chega ao extremo de abrir mão de suas conquistas em nome de uma aventura. Se fossemos aventureiros, teriamos escolha? E o tal livre-arbítrio? Nada mais que uma forma de enaltecer o erro...
רפאל

"Torna-te aquilo que és."

Talvez o grande problema em nossa sociedade hoje seja a dificuldade em aceitar os intempérios e as diferenças diversas. Este é um local para, acima de tudo, conhecer uma parcela de boa ou falsa verdade. Nesta data, compartilho com amigos, afins e desconhecidos minha vontade de mudança e minha paciência com a realidade.
Calma e elegância,
רפאל